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terça-feira, 30 de outubro de 2012

E nasce um Gigante!


Pra quem não sabe, vou contar um pouco da história do popular e querido bairro Boqueirão. Se procurar no dicionário, Boqueirão tem vários significados e eu acho que todos cabem, ontem, hoje e amanhã como adjetivos do bairro. Vejamos; “covão” – A julgar pelo tamanho do cemitério podemos dizer que realmente é uma grande cova. “Grade boca” - se pensar nos pontos de venda de dorgas então. “Abertura de um canal” – devem estar falando daquela valeta que passa pela Rua Evaristo da Veiga. “Rua que dá para o rio” – não sei se rua dá, mas no Boqueirão, se passar por algumas ruas (não vou citar o nome pra não causar congestionamento) tem muita coisa que dá. “Quebrada entre montes” – Quebrada ainda é usada na gíria dos manos.

Em meados de 1856, (lembro-me como se fosse ontem) um grande amigo, Sr. Manoel Antonio Ferreira era proprietário da Fazenda Boqueirão, com aproximadamente 1.000 alqueires. O Senhor do Boqueirão. Maninho (apelido de infância) era vice- presidente da província, um Senhor muito respeitado. Frequentava a 360 Graus todos os sábados e ao passar pela Rua Marechal Floriano Peixoto com seu cavalo branco, as pessoas paravam e estendiam suas mãos a cumprimenta-lo. Em 1885 Maninho morreu numa emboscada da torcida do Vila Fanny. Contam que aproximadamente 300 integrantes da “Torcida Organizada Senhores do Fanny”, aguardavam alguns membros da Torcida do Caxias nos fundos do terminal do Carmo. Maninho era o chefe da organizada e sempre vinha à frente de todos. Ao aproximar-se do terminal (quase em frente à Caixa Econômica) os torcedores do Fanny correram para batalha. Munidos de cetras (estilingues) e pedras, não tiveram piedade de Maninho. Luto na Província.

Naquele ano, mais especificamente naquele dia, o Caxias havia ganhado o título de campeão da Copa Estadual Regional de bairros em Curitiba de forma invicta, o que causou a revolta dos torcedores do Fanny, adversário goleado na final por 7x1. Em detalhes lembro-me do golaço do goleiro Theolindo (Major Theolindo Ferreira Ribas, filho mais velho de Maninho. Lado esquerdo da foto acima) batendo falta na gaveta, sem chances para o goleiro Amaral (Victor Ferreira do Amaral). O troféu desta Copa é conhecido até hoje como “troféu da copa Maninho” e encontra-se no museu do Caxias F.C.

De certa forma é interessante falar do Caxias, mesmo que ainda me traga dolorosas lembranças. Em 1910, Theolindo vendeu a Fazenda para Victor, Homero (filho de Victor) e Alexandre (casado com a filha de Victor), uma negociação que deixou toda torcida triste, pois Victor queria acabar com o estádio do Caxias, clube que defendeu por mais de 10 anos sendo escolhido oito vezes bola de ouro pela FIFA, goleiro menos vazado nos 10 campeonatos que disputou, defendeu a seleção Brasileira em duas copas do mundo e foi artilheiro (isso mesmo, goleiro artilheiro) em um ano, para construir um Shopping de automóveis. Não contentes com o boato, a grande massa se reuniu em frente Hot Dog Yracema para, em carreata, seguir até a casa de Theolindo na tentativa de que o mesmo desistisse do shopping. E deu certo. O médico do clube, Dr. Erasto Gaertner disse que os jogadores estavam abalados e temia um suicídio coletivo. Foi então que Theolindo, em um ato de nobreza, dirigiu-se até a passarela do terminal do Hauer, subiu em seu ponto mais alto e declarou:

- Aha, uhu o Caxias é nosso!

A população foi ao delírio. Pessoas se abraçavam, casais se beijavam. Até quem não se conhecia estava se cumprimentando. O buzinaço ecoava pelo matagal. Uma felicidade geral no lado sudeste da cidade. Todos dirigiram-se à sede do Caxias e com um belo churrasco e muita cerveja, comemoravam a decisão de Theolindo. Este dia é conhecido hoje como: "O dia do Caxias". Moradores mais velhos da região sequer saem de casa em respeito a este dia.
Bom, assim conto um pedaço da história do Bairro Boqueirão. Em breve teremos mais alguns contos.

O Boqueirão é o nosso país.

Um forte abraço
Angelin Junior

(dúvidas, informações e sujestões é só escrever aqui mesmo, reclamações não serão aceitas devido ao código de ética e conduta escrito pelo pessoal do "meia lua" )